domingo, 10 de maio de 2009

Aprendi Sozinha

Já me falaram que pra ser interessante tem que ser bonito, que pra ser bonito tem que ser magro, que pra ser magro tem que passar fome. Já me falaram que para ganhar dinheiro tem que trabalhar, mas que pra conseguir um bom trabalho tem que ter sorte e que sorte não se compra no mercadinho da esquina. Já me falaram que ter sonhos é bobagem, que sonhar muito é ocupação de preguiçoso e que preguiça faz mal. Que Papai Noel não existe e que só acredita nele quem é criança e que ser criança é tempo finito. Já me falaram que o bom é o preto no branco, que usar preto emagrece e que roupa branca se lava com água sanitária. Que dormir oito horas é o certo, desde que se deite às dez horas e se levante às seis horas, passando disso te chamam de desocupado. Já me falaram que ler é importante, mas que leitura boa é aquela de gente inteligente e que parecer inteligente ta na moda. Que ser educada é falar baixo, cruzar as pernas quando se senta e que permanecer sentado muito tempo interfere na circulação. Já me falaram que escrever é terapia e que terapia é coisa de maluco. Que ser feminina é estar sempre cheirosa e arrumada, mas que mania de arrumação é irritante. Já me falaram que homem adora mulher de unhas pintadas de cor clara e sem celulite. Que a vida de solteiro é vazia e que a vida de casado enche.Já me falaram que homem não presta e que amor de verdade é história de novela mexicana. Que romantismo é coisa do passado, que pra se dar bem a gente tem que jogar. Ou seja: Fingir ser. Fingir sentir. Fingir sorrir. Fingir mentir. Fingir, fingir. fingir e fingir. Mas, falaram-me também da importância de ser fiel a mim, de fazer crescer a crença em minhas convicções. Falaram-me: Luana, seja dona das suas opiniões! Que não existem verdades inexoráveis. Então, descobri que beleza de verdade é que ta do lado de dentro, que pra ser bonito basta se sentir assim. Descobri que comer além da conta às vezes não faz mal a ninguém e que dinheiro não é o mais importante. Aprendi que sorte é materialização do esforço e que o trabalho dignifica qualquer conquista. Descobri que sonho é como o sangue que corre nas veias e que ter preguiça é natural. Que permanecer criança é tão importante quanto se tornar adulto. Aprendi que ao preto e ao branco podemos misturar mais cores e fazer do mundo um arco-íris. Aprendi que não importa dormir oito minutos, oito horas ou oitenta anos, se o que vale é estar acordado para os sinais que a vida nos dá. Aprendi que ser desocupado é um tipo de ocupação que estabelecemos com o nada e que fazer nada também cansa. Aprendi que todo tipo de leitura alimenta desde que nos remexa por dentro. Que a inteligência da moda é aquela que nos permite entender e aceitar as pessoas como elas são. Aprendi que ser educado é demonstrar respeito. Que gritar limpa o espírito.Que pra circulação é bom fazer caminhada e que é pra frente que se anda. Aprendi que caneta e papel em mãos é arma contra a melancolia e que todo mundo precisa de terapia. Aprendi que felizes são os malucos, pois eles são livres. Aprendi que o que irrita é necessário e que até o necessário é prescindível. Que esmalte escuro fortalece as unhas e que celulite é feminino. Aprendi que o que preenche a vida não é seu estado civil, mas o recheio que escolhemos para colocar dentro dela. Aprendi que ser antiquada é bacana e que também posso ser atriz de novela mexicana. Aprendi que ser mau jogadora não me torna necessariamente uma perdedora. Aprendi que o amor também pode vir de mãos dadas com a dor. Aprendi que não adianta forjar sentimentos, ensaiar sorrisos, maquinar mentiras ou fingir ser fantoche dos acontecimentos. Aprendi ser eu, com todas as cargas, todos os pesos, todas as dores, amores e dissabores que ser eu me traz. Mas ser eu, é divertido e isso, ninguém me falou. Isso eu aprendi sozinha.

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